O QUE DIZ O PÚBLICO: Luz em Einstein
Por: Lino Fernando Bragança Peres ( Professor da UFSC Vereador em Florianópolis)
"Luz em Einstein": bela reflexão para o
tempo que vivemos Foi uma grande oportunidade assistir ao espetáculo “Luz em
Einstein”, com o Grupo Teatro Novo e texto e direção de Carmen Fossari, na
sexta passada, 10/11, no auditório Guarapuvu da UFSC, que buscou penetrar na
vida do Prêmio Nobel da Física que impactou o mundo com sua Teoria da
Relatividade.
A nossa Carmem Fossari, sempre alerta e crítica a
todas as formas de opressão e com o radar dirigido para a liberdade, apresentou
sua peça em colaboração com vários integrantes ligados à UFSC. O espetáculo nos
faz refletir sobre os limites entre ética e ciência, a intolerância, o fascismo
e o respeito intransigente à liberdade de expressão e pensamento.
É muito oportuna essa obra no atual período sombrio em
que o Estado de Exceção vai penetrando no tecido social e aprisionando mentes e
corações, mas não sem luta, resistência e enfrentamento. São cortantes e
proféticos os encontros entre vários Einsteins em três diferentes idades e em
diversas cidades europeias em que trabalhou e morou; o jogo do tempo narrativo
que vai até sua morte e retorna à sua fase jovem com Mileva; os debates com os
pensadores e cientistas conhecidos à época e que se eternizaram, como Max
Planck, Marie Curie e outros; as relações epistolares entre Einstein e Freud; o
encontro de Einstein com Charles Chaplin nos Estados Unidos; os amores no tempo
de cumplicidade do grande físico com as companheiras Mileva e Elsa e os lados
pouco conhecidos do físico como músico, velejador e humanista. Outro destaque é
o belíssimo G Menor de J. S. Bach, que enfatiza a ambiência que a peça de
teatro em si já tem.
“Luz em Einstein” percorre as contradições entre as
certezas da ciência e sua solidão diante de questões que ela levanta e que
podem ser mal interpretadas, como foi a construção da bomba nuclear, associada
indevidamente a Einstein, e seu uso terrível e liberado pelos senhores da
guerra, a partir do Projeto Manhattan.
A peça remete ao tema da intolerância política e
étnica que levou ao fascismo europeu nos anos anteriores à Segunda Guerra
Mundial e que hoje retorna no Brasil e no cenário mundial em formas ainda mais
sofisticadas, representando um profundo recuo civilizatório.
Por isso, a homenagem, nos créditos finais, ao Reitor
Luis Carlos Cancellier, vítima do Estado de Exceção, toca profundamente. É
importante lembrar que esta referência a Cancellier deu-se no mesmo espaço em que
se realizou o velório dele sob forma de homenagem de despedida com discursos
que emocionaram, como o do professor de Direito da UFSC, desembargador do
TJ-SC, Lédio Rosa de Andrade, amigo de infância do Cau, como era conhecido.
Sentenciou o professor uma afirmação que ecoou pelo auditório lotado: “Os
fascistas estão de volta. Temos que pará-los”. Este grito junta-se ao que a
peça de Fossari também transmite e ensina: que a história dos desenganos e da
barbárie pode voltar.
“Luz em Einstein”, ao longo de sua narrativa e
principalmente ao final, nos dá uma luz de esperança: a liberdade como bem
maior não pode ser apagada por qualquer tipo de totalitarismo.
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